"Um dia, caminhando a pé, para ver se encontrava uma cigana de fé. Ela pediu, para ler minha mão, e o que ela disse foi a mais pura verdade..."
Precisar uma origem para os ciganos é como tentar fixar o vento, pois sua origem é desconhecida. Registros grafados do século X foram encontrados e historiadores acreditam que o noroeste da Índia foi o local de onde o ciganos teriam partido para a Europa e demais partes do mundo. No entanto, muita informação se perdeu e é difícil exatidão.
O Brasil é o terceiro país que mais acolheu e acolhe ciganos, no mundo, apenas superado pela Espanha e Bulgária. Palavras que usamos no cotidiano, como gamar, pechincha, pelego, gajo, piranha, rango, punguista (do romeno), pirar, entre outras, têm origem na língua cigana. São mais de cem verbetes do romanês e do calón que enriquecem nosso léxico.
Outro ponto curioso que refere-se à influência dos ciganos na cultura brasileira, trata-se das saias rodadas das baianas, não originárias da África, mas na vestimenta das ciganas. O violão, instrumento central de nossa música, foi trazido ao Brasil pelos ciganos calón. O lundu, tido como a mais significativa dança afro-brasileira do período colonial, é idêntico à zazuella espanhola, trazida pelos ciganos ao Brasil.
Sua trajetória pelo mundo é fortemente marcada por perseguições, preconceitos, estigmas, discriminação e pela ideia de inferioridade, acusado, entre outras coisas, de feitiçaria. Contudo, mesmo diante lutas e exclusões, filhos do vento, do sol e da liberdade são capazes de adaptar-se por onde passam, preservando os conhecimentos magísticos e panteístas derivados da fé xamânica, vivendo com alegria e amor à natureza nesta trajetória interminável.
"Minha pátria é onde está os meus pés" só faz sentido para quem sabe viver cada dia como se fosse o último, para quem sabe aproveitar pequenas coisas que a vida oferece e os outros não sabem apreciar como: o amanhecer do dia, o banho da chuva, o olhar de alguém que nos ama. Vivenciar uma gira de ciganos na Umbanda é conhecer, por meio dos guias espirituais, um pouco da cultura antiga, misteriosa e mítica, mantida no astral por espíritos amorosos, prósperos, alegres e caridosos com todos aqueles que vêm ao seu encontro.
"Melhor ser cigano do que um grande rei".
Para conhecer um pouco mais sobre o assunto, assista a obra-prima "Gypsy Film Latcho" de Tony Gatlif (1993), uma produção impressionante de cinema musical que revela tradições musicais, as raízes, a diversidade e a trajetória interminável do povo cigano. Disponível no link https://www.youtube.com/watch?v=DTuXveZStUo e leia o livro "Os Ciganos na Umbanda" de Alberto Marsicano e Lurdes de Campos Vieira, Editora Madras, (2013).
Salve o povo das caravanas, do nomadismo, do Oriente. Salve os Ciganos e Ciganas que trabalham na Umbanda.
Optcha!
(Palavra romani ou romane, lingua cigana e significa "Salve". É uma saudação cigana e utilizada para saudar as entidades (ciganas) da Umbanda).
Fonte:
"Os Ciganos na Umbanda" de Alberto Marsicano e Lurdes de Campos Vieira, Editora Madras, (2013) e "Gypsy Film Latcho" de Tony Gatlif (1993)
Tamires Santana é membro do Núcleo de Estudos Espiritual e Religioso 7 Tronos Sagrados.